É inquestionável a importância de uma estrutura familiar sólida, bem como de um acompanhamento regular nas tarefas e atividades dos filhos. Contudo, penso que muitas vezes se cai num exagero que, ao invés de produzir resultados positivos, fomenta e fraca autonomia e até irresponsabilidade por parte das crianças.
É um facto que os pais cada vez têm menos tempo para os filhos, as exigências profissionais, os horários, o desgaste psicológico e a falta de paciência são uma constante no dia a dia das famílias portuguesas, nas também é um facto que alguns pais, no pouco tempo que vão tendo, exageram na forma como o "gastam" com os filhos.
É normal, ouvir pais dizer que têm de ajudar os filhos nas tarefas escolares e que todos os dias dispensam uma hora (ou mais), para os trabalhos de casa feitos em "equipa", sendo que os fins de semana também não escapam a esta rotina. É menos normal, ouvir alguém dizer que vai deixar de trabalhar para dar apoio ao filho/a, uma vez que o próximo ano escolar vai ser difícil e o apoio parental tem que ser intensivo... Pois, há dias ouvi isso mesmo e confesso que me causou alguma preocupação este tipo de atitude manifestado por uma mãe que tem uma filha que vai para o terceiro ano. Ainda pensei que este terceiro ano, fosse o terceiro ano de medicina, mas não, trata-se tão só do terceiro ano do primeiro ciclo... Mas afinal o que é que estes professores andam a ensinar aos meninos no terceiro ano, física quântica, biotecnologia molecular ou hermenêutica filosófica?
É perfeitamente legítimo e, acima de tudo, louvável que os pais queiram acompanhar o crescimento, educação e formação dos filhos, mas sustentar esse tipo de argumentação com princípios de natureza escolar, ainda por cima numa fase praticamente embrionária da vida académica parece-me pouco razoável. Aliás, defendo que a autonomia e responsabilidade devem ser fomentadas precisamente com o início da vida escolar das crianças, sendo que os trabalhos de casa são a primeira grande responsabilidade dada às crianças. E o que muitas vezes acontece, é que estas não tomam a iniciativa de fazer os TPC, esperam que os pais se sentem junto deles e esperam que os pais lhes digam que, por hoje já está.
E provavelmente, vão esperar sempre que os pais estejam lá, onde quer que seja esse lá, para lhes dizerem o que fazer.
Digo eu!