Neste país carregado de médicos, doutores, engenheiros, advogados, carregado de gente com a ordem de Cristo, dos Templários e quiçá dos Visigodos, carregado de gente com com lapelas medalhadas, o que parece importar é isso mesmo, títulos... E quanto mais melhor, a grandeza da pessoa é vista pelos galhardetes que ostenta.
Isto irrita-me e irrita-me muito, principalmente quando a visita destes mui nobres personagens implica com a minha vida profissional e com aqueles que dela dependem.
Ah e tal... Porque amanhã vem cá sua excelência e por isso tudo tem de estar impecável, sua excelência tem de ser recebida com pompa e circunstância, sua excelência não pode ser recebida na sala x, tem de ser na sala xy, sua excelência não pode caminhar por onde caminha a plebe, sua excelência tem de se deliciar com belas flores, sua excelência tem de ser recebida à sua altura... Mas qual altura? É algum gigante? É algum fenómeno de sapiência... Tenham paciência!
Afinal quem é sua excelência? Sua excelência é um qualquer homem, ou um homem como outro qualquer, simplesmente vem armado em político do planalto, de colarinho branco, com punhos engomados e enfeitados com botões. Não é o Papa, pois este seria Sua Santidade, não viria de botões de punho e o branco não seria do colarinho. Se fosse o Papa, de certeza que preferia ser recebido com modéstia e humildade, porque os verdadeiros homens valem pelo que são, não por aquilo que querem ser.
Tenho pena desta gente, desta gente que se deslumbra com o acessório. Faz-lhe falta ler Aleixo, pois certamente ainda não sabem que uma mosca sem valor, pousa co'a mesma alegria na careca de um doutor, como em qualquer porcaria.