sábado, 27 de abril de 2013

A feira de sábado

 
Na minha infância e pré adolescência sábado era dia de Feira e sábado sem feira (e sol!), não era sábado. Não havia sono que atrapalhasse ou atrasasse este programa, o dia começava cedo e a manhã era passada inteirinha na feira. Aí se comprava os bens para sustentar o agregado durante a semana, encontravam-se os familiares, primos e parentes, atualizavam-se as notícias, novidades e cusquices e ainda se fazia a ronda pelas tendas da roupa da moda, mirava-se os modelitos e se o orçamento permitisse, lá se fazia uma extravagânciazita.
 
Segundo reza a história, as feiras já existem em Portugal desde o séc. XII e XIII, tendo vindo a enfraquecer em finais do séc. XV, em virtude do desenvolvimento e prosperidade das vilas e cidades que garantiam o abastecimento dos produtos e a satisfação das necessidades dos seus habitantes. 
 
Ainda assim, a tradicional feira continuou a existir e resistir às grandes mudanças sociais e comerciais e, no meu caso concreto, ainda pude viver e sentir o cheiro das pipocas, aprender a regatear o melhor preço, e ouvir o pregão do vendedor da banha da cobra e do propagandista que  anunciava a "carrada" de atoalhados que donas de casa atentas podiam levar para casa, enfeirava-se a sério!
 
É com muita saudade que recordo estes sábados de feira, mas é também com muita tristeza que olho, todos os sábados para o sítio onde se fazia a "minha" feira e não vejo as tendas nem as pessoas, vejo uma praça ocupada por lojas orientais, cafés com a sina lida, duas ou três personagens que apanham résteas de sol numa esquina com tradição, um ou dois taxistas que lêem as últimas da bola porque os clientes já não vêem à feira, um ou outro comerciante que espera pacientemente por um freguês, qual D. Sebastião em dia de feira... e assim está a praça, porque a "minha" feira foi deslocada para um mercado em betão armado fora da praça, fora da vila, sem problemas de estacionamento, sem tendas no chão, com condições aprovadas por uma ASAE exigente... mas sem fregueses! Fugiram todos para as grandes superfícies porque aquele  mercado cinzento fica muito "fora de mão" e assim já nem vale a pena ir à vila...vão às cidades.
Eu continuo a ir à velha praça todos os sábados, que de praça já só tem mesmo o nome inscrito numa parede branca de uma casa apalaçada!

Sem comentários:

Enviar um comentário